sexta-feira, 24 de julho de 2015

Intenção Paradoxal





Viktor Frankl - Em Busca de Sentido (livro)

"Ironicamente, da mesma forma que o medo faz acontecer aquilo de que se tem medo, uma intenção forçada torna impossível aquilo que se deseja muito. 
Essa intenção excessiva, ou "hiper-intenção, como eu chamaria, pode ser observada particularmente em casos de neurose sexual. 
Quanto mais o homem procura mostrar sua potência sexual, ou quanto mais a mulher tenta mostrar sua capacidade de experimentar o orgasmo, menos chances de sucesso terão. 
Prazer é e deve permanecer um efeito colateral ou produto secundário; ele será anulado e comprometido à medida que dele se fizer um objetivo em si mesmo.

A logoterapia baseia sua técnica denominada "intenção paradoxal" no fato duplo de que o medo produz aquilo de que temos medo e de que a intenção excessiva impossibilita o que desejamos. 
Nessa abordagem, o paciente que sofre de fobia é convidado a intencionar precisamente aquilo que teme, mesmo que apenas por um momento.

Vou lembrar um caso. 
Um jovem médico me consultou por causa de seu medo de transpirar. 
Sempre que ele esperava uma emissão de suor, essa ansiedade antecipatória já era suficiente para precipitar a transpiração excessiva. 
Com a finalidade de romper esse círculo vicioso, aconselhei o paciente a que, quando voltasse essa transpiração, deliberadamente mostrasse às pessoas o quanto ele conseguia suar. 
Uma semana depois, ele voltou, relatando que, sempre que encontrava alguém que nele provocava ansiedade antecipatória, dizia para si mesmo: "Antes eu só conseguia suar um litro, mas agora eu vou despejar pelo menos dez litros!" 
O resultado foi que, depois de sofrer dessa fobia durante quatro anos, com uma única sessão ele foi capaz de se libertar da mesma, permanentemente, em questão de uma semana.

O leitor perceberá que esse procedimento consiste numa inversão da atitude do paciente, uma vez que seu temor é substituído por um desejo paradoxal. Através desse tratamento tira-se o vento das velas da ansiedade.
Semelhante procedimento, entretanto, precisa fazer uso da capacidade especificamente humana do autodistanciamento, inerente ao senso de humor. 
Essa capacidade básica da pessoa distanciar-se de si mesma entra em ação sempre que se aplica a técnica logoterápica chamada "intenção paradoxal". Ao mesmo tempo, o paciente é capacitado a se colocar numa posição distanciada de sua própria neurose.
"O neurótico que aprende a rir de si mesmo pode estar a caminho da autodireção, talvez da cura". 
A intenção paradoxal é a validação empírica e aplicação clínica da afirmação de Allport.

A intenção paradoxal também é aplicável em casos de distúrbio do sono. 
O medo de insônia resulta numa hiper-intenção de pegar no sono, o que, por sua vez, incapacita o paciente de conseguí-lo. 
Para superar esse medo em particular, costumo aconselhar o paciente a não tentar dormir, mas antes fazer justamente o contrário, ou seja, ficar acordado o quanto possível. 
Em outras palavras, a hiper-intenção de adormecer, oriunda da ansiedade antecipatória de não conseguir fazê-lo, precisa ser substituída pela intenção paradoxal de não pegar no sono, o que logo será sucedido pelo sono.

Assim que o paciente para de combater suas obsessões, procurando ridicularizá-las, tratando-as com atitude irônica, aplicando a intenção paradoxal, interrompe-se o círculo vicioso. 
O sintoma diminui e acaba atrofiando. 
Nos felizes casos em que não houver um vazio existencial propiciando o sintoma e convidando-o a se instalar, o paciente não só conseguirá ridicularizar seu sintoma neurótico, mas, por fim, conseguirá ignorá-lo completamente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário