* Extraído do livro: Os Ensinamentos Finais de Annamalai Swami.
Como Estabelecer-se no Ser
Pergunta: Eu venho seguindo os ensinamentos do Bhagavan há muitos anos, mas
sem quaisquer benefícios aparentes. Eu não sinto paz alguma. O que é que estou
fazendo de errado? Por que não obtenho resultados?
Annamalai
Swami: A autoinquirição deve ser feita continuamente.
Ela não funciona se você a considerar como uma atividade de meio período.
Você
pode estar fazendo alguma coisa que não prende seu interesse ou sua atenção,
então pensa: “Ao invés disso vou praticar um pouco de autoinquirição”.
Isso
nunca vai funcionar.
Você pode dar dois passos adiante quando pratica, mas dará
cinco passos para trás quando terminar a prática e retornar às suas ocupações
mundanas.
É necessário um comprometimento de toda uma vida para estabelecer-se
no Ser.
Sua determinação em ter êxito deve ser firme e forte, e deveria se
manifestar na forma de esforços contínuos, e não esparsos.
Você tem estado
mergulhado na ignorância por muitas vidas, e está acostumado com isso.
Todas as
suas crenças profundamente enraizadas, todos os seus padrões de comportamento
reforçam a ignorância e fortalecem o poder que ela exerce sobre você.
Essa
ignorância é tão arraigada, que está fortemente enredada em todas as suas
estruturas psicológicas, que é necessário um esforço sólido por um longo
período para livrar-se dela.
Os hábitos e
crenças que a sustentam têm que ser desafiados repetidamente.
A ignorância é a
ignorância do Ser, e para removê-la é necessário Autoconsciência.
Quando você
alcança a consciência do Ser, a ignorância desaparece. Se você não perder o
contato com o Ser, a ignorância não poderá surgir.
Se existe escuridão,
você a remove trazendo luz.
A escuridão não é alguma coisa real e substancial
que você tem que desenterrar e jogar fora.
Ela é apenas a ausência de luz, nada
mais.
Quando se deixa entrar luz num quarto escuro, repentinamente a escuridão
não está mais lá.
Ela não desaparece gradualmente ou vai embora aos poucos; ela
simplesmente deixa de existir quando o espaço é preenchido pela luz.
Isso é apenas uma
analogia, porque o Ser não é como as outras luzes. Ele não é um objeto que você
vê ou não vê.
Ele está aí o tempo todo, brilhando como sua própria realidade.
Se você se recusa a reconhecer sua existência, se você se recusa a acreditar
que ele está aí, você coloca a si mesmo em uma escuridão imaginária.
Ela não é
uma escuridão real.
É sua própria recusa intencional em reconhecer que você é a
própria luz.
Essa ignorância autoimposta é a escuridão que precisa ser banida
pela luz da consciência do Ser.
Temos que nos voltar repetidamente para a luz
do Ser dentro de nós, até que nos tornemos um com ela.
Bhagavan [Ramana
Maharshi] falou sobre voltar-se para dentro e encarar o Eu Real.
Isso é tudo o
que é necessário.
Quando olhamos para fora, nos envolvemos com os objetos e
perdemos a consciência do Ser que brilha dentro de nós.
Mas quando, pela
prática frequente, ganhamos força para manter nosso foco no Ser, nos tornamos
um com Ele e a escuridão da ignorância do Eu Real se dissipa.
Então, muito
embora continuemos a viver nesse corpo falso e irreal, nós habitaremos no
oceano de bem-aventurança que nunca desaparece ou diminui.
Isso não vai
acontecer em um instante, porque muitas vidas de pensamentos equivocados e
ignorantes tornaram impossível para a maioria de nós focar atentamente e
regularmente no Ser dentro.
Se você deixar sua casa e começar a caminhar para
longe dela, e se esse hábito perdurar por muitas vidas, provavelmente você
estará bem longe de casa quando finalmente decidir que já chega, e que você
quer voltar para o lugar de onde começou.
Não se deixe desencorajar pela
extensão da jornada, e não relaxe em seus esforços para chegar em casa.
Vire
180º para voltar-se para a fonte de sua jornada exterior, e continue indo em
direção ao lugar de onde você começou.
Ignore a dor, o desconforto, e a
frustração de parecer não estar chegando a lugar algum.
Mantenha-se movendo de
volta à fonte, e não deixe que nada o distraia no caminho.
Seja como o rio em
sua jornada de volta ao oceano.
Ele não pára, se desvia, ou decide correr morro
acima por um tempo. Ele não se distrai.
Ele apenas se move lenta e
constantemente de volta ao lugar de onde suas águas se originaram.
E quando o
rio se dissolve no oceano, ele deixa de existir.
Somente o oceano permanece.
Jiva [o eu individual] veio de Siva
e tem que voltar para Siva
novamente.
Se houver uma grande fogueira e uma brasa incandescente pular para
fora dela, o fogo na brasa logo se extinguirá.
Para reacendê-lo é preciso
colocá-lo de volta na fogueira, de volta à sua fonte candente.
Não existe
felicidade na separação.
O jiva
não sente felicidade, contentamento ou paz enquanto ele permanecer um ser
separado.
O ser separado surge do Eu Real.
Ele tem que voltar para lá e lá
findar.
Somente então haverá paz eterna.
A energia da mente vem do Ser.
No estado de vigília a mente atua como
uma entidade separada. Durante o sono ela retorna à fonte.
Ela aparece e
retorna repetidamente.
Ela faz assim porque não conhece a verdade do que
realmente é.
Ela é o Ser apenas, mas sua ignorância deste fato a faz miserável.
É este sentimento de separatividade que faz surgir os desejos, sofrimento e
infelicidade.
Mantenha a mente no Ser.
Fazendo isso você pode viver em paz
tanto acordado quanto enquanto estiver adormecido.
No estado de sono profundo
todas as diferenças cessam.
Se você mantiver a mente no Ser durante o estado de
vigília, também não haverá diferenças e nem distinções.
Você verá tudo como seu
próprio Ser.
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