sábado, 7 de janeiro de 2017

Krishamurti - Como olhar para um fato?

Saanen, 1979




"Krishnamurti:
- O fato é que sou condicionado.
Agora vá devagar.
De qual maneira eu olho para o fato?
Isso é muito importante, certo?

Você está seguindo isto?
De qual maneira eu observo o fato?
Ao observar o fato, digo: "Preciso me livrar dele!"?
Ou digo: "Preciso conquistá-lo, suprimi-lo!" e assim por diante?
De qual maneira eu olho para o fato?
Entendeu?
Como olho para ele?

Platéia:
- Com medo.
- Sou ele, senhor.

Krishnamurti:
- O fato - por favor, siga isto - o fato é diferente de mim que estou observando o fato?
Entendeu minha questão?

Platéia:
- Não.
- Sim.

Krishnamurti:
- O fato é que sou condicionado e estou dizendo: "Como olho para o fato?", "De que maneira olho para ele?"
Olho para ele, o fato, como algo diferente de mim?
Ou esse condicionamento sou eu?
Por favor, vá devagar.
Certo?
Como você olha para ele?
Você olha para ele como se fosse separado do fato ou diz: "Sim, o fato sou eu!"?

Platéia:
- Separado.
- Primeiro, você está envolvido nele.

Krishnamurti:
- Olhe, madame, a raiva é diferente de você?
Obviamente, não.
Então, seu condicionamento é diferente de você?

Platéia:
- Não.

Krishnamurti:
- É isso aí.
Agora você está entendendo.
Então, você está observando o fato como se ele fosse você, você é o fato.
Agora, espere um minuto!
Então, o que acontece?

Platéia:
- Observamos o fato de que estamos vivendo no campo das ideias somente.

Krishnamurti:
- Senhor, suas mentes não estão treinadas.
Suas mentes são vagas, sabe?
Divagam por todos os lados.
Aqui está um problema, olhe para ele.
Isso é: a raiva é você.
Você não é diferente da raiva.
Espere! Espere!
Quando você está bravo, você é isso!
Então, o pensamento aparece e diz: "Fiquei bravo."
Então, o pensamento separa a raiva de você.
Entende?
Assim, igualmente você está condicionado, e esse condicionamento é você.
Espere!
O que você pode fazer se é você!

Platéia:
- Nada.

Krishnamurti:
- Não! Espere! Olhe!
Meu deus, vocês são todos tão...
A pele do orador é um pouco marrom.
Certo?
É marrom.
Mas quando ele diz: "Preciso mudá-la para outra coisa, porque as pessoas brancas são melhores", então estou em conflito.
Mas quando digo: "Sim, é assim", o que aconteceu a minha mente?
Senhor! Não salte ainda, indague!
O que aconteceu com a mente que disse antes: "A raiva é diferente de mim", mas agora a mente diz: "Que tolice, a raiva sou eu!"?
Agora, igualmente, a mente disse: "O condicionamento é diferente de mim", mas percebe que o condicionamento sou eu.
Então, o que acontece à mente?
Oh, senhor, por favor, não salte para coisas que você não vê realmente.
Não repita nada, não diga nada que você próprio não tenha visto.

Platétia:
- Não há mais conflito, o conflito foi resolvido.

Krishnamurti:
- A mente agora não está mais em contradição.
Certo?
Isso é tudo o que estou apontando.
Não está mais dizendo: "Devo fazer algo a respeito".
Entendeu?
A mente agora está livre da ideia, do conceito, do condicionamento de que eu tenho de agir.
Certo?
Assim, a mente agora está livre para olhar.
Está seguindo isto.
Apenas olhe.
O que é isso?
A mente diz: "Sou condicionado", não a mente é condicionada, mas a coisa toda é condicionada.
Então, diz: "Agora observe esse condicionamento".
O que acontece quando você observa?
Não há observador, porque o observador não é diferente da coisa observada, há somente observação.
Certo?
Você está seguindo isto?
Não verbalmente, realmente?
Então, o que ocorre quando você observa?
Observar puramente, não dar-lhe uma distorção.
A distorção acontece quando você diz: "Tenho de mudar!"
Ou: "Preciso suprimir, tenho de ir além disto!"
Tudo isso terminou porque você está meramente observando o fato de que a mente é condicionada.
Há pura observação.
Certo?
Não há esforço.
Então, o que acontece?
A coisa observada simplesmente se transforma.
Certo?
Você está seguindo?
Não irá, a não ser que o faça, não irá.
A não ser que aplique, faça, você dirá: "Não vejo isto!"

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